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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Dama do Bosque

- Cale a boca James! – gritou minha mãe, furiosa.
- Quem você pensa que é para falar assim comigo Renata? – meu pai berrou de volta.
- Sua esposa! Aquela que agüenta você há 16 anos!
- Eu quero divórcio!
Eu não podia mais agüentar aquilo. Toda noite eles discutiam por coisas idiotas. Saí do meu quarto e fui em direção à porta da frente, estavam tão concentrados em seu mundinho idiota que nem perceberam o estrondo da porta quando saí.
Andei ruma à parada do ônibus, precisava sumir por um tempo. Não sabia ao certo o que faria a seguir, era meia noite e eu não tinha para onde ir. Apenas precisava chegar à parada do ônibus, o resto eu resolveria depois.
Quando estava a alguns passos da parada, avistei uma pessoa sentada no banco. Minhas mãos começaram a soar. O que eu estava fazendo? Era meia noite! Eu não deveria estar sozinha à uma hora dessas! Enquanto minha mente protestava, meus pés me levaram até a parada.
Por sorte, era uma mulher. Sentei-me ao lado dela e fitei a rua vazia.
- Olá. – disse ela, com sua voz incrivelmente doce.
- Oi. – respondi, minha voz parecendo uma grasnada perto da dela.
- Como se chama? – sabia que não devia falar com estranhos, mas ela parecia inofensiva.
- Hayley.
- Para onde está indo?
- Não sei. – dei de ombros.
- Quantos anos tem?
- 15. – respondi sem prestar atenção à conversa.
- Gostaria de ouvir uma história Hayley?
- Tanto faz. – dei de ombros, mas olhei para ela, um pouco mais interessada.
- 500 anos atrás...


* * *


Em um reino perdido, vivia uma rainha solitária. Um dia, ela se casou com um jovem camponês e eles tiveram uma linda criança.
Kendra era uma menina animada e sorridente, todos a amavam, ela era encantadora. Nunca houvera criança mais linda que ela. Todos a mimavam e a agradavam, e ela adorava toda aquela atenção.
Quando tinha 10 anos, ganhou uma irmãzinha. Naomi era tão linda quanto Kendra, mas era mais simpática. Enquanto Naomi crescia, Kendra percebeu que ela recebia mais atenção. Procurou ignorar a irmã e viver em seu mundinho de luxo.
Quando Naomi tinha 15 anos, foi pedida em casamento. Kendra, que já tinha 25 e ainda era solteira, não pôde acreditar. Ninguém queria esposá-la, pois ela era invejosa, mimada e convencida.
Dominada pela raiva e pela inveja, Kendra esperou até Naomi pegar no sono e arrancou-lhe o coração, comendo-o em seguida. Ela acreditava que, comendo o coração da irmã, teria sua juventude, sua beleza e seu carisma para sempre.
Quando descobriram o que havia feito, Kendra foi expulsa do reino, fadada a vagar pelo bosque sombrio para sempre. Após 30 dias no bosque, vivendo de frutas e carne de pequenos animais, Kendra começou a sentir-se velha e feia. Precisava encontrar uma saída.
Correu pelo bosque, desesperada, durante 20 dias, parando apenas para se alimentar. Então, finalmente, Kendra encontrou uma saída, que levava ao mundo real. Descobriu que todo o seu reino era como um portal ao passado, à 500 anos atrás.
Andou pelas ruas, cansada e machucada, até encontrar uma garota de 16 anos que acabara de sair de uma festa. Dominada pela fome e pelo desejo de ser bonita, Kendra não pensou duas vezes antes de arrancar brutalmente o coração da pobre garota e comê-lo.
Passou, então, a viver na cidade durante a noite e no bosque durante o dia, pois a luz do sol deixava-a velha e feia. Durante a noite, vagava pela cidade, atraindo garotas com seu jeito inofensivo de ser. Matando-as a sangue frio.
Dizem que até hoje a Dama do Bosque vaga pelas ruas das cidades, procurando vítimas de 13 a 19 anos de idade. Roubando-lhes a juventude, a beleza e a vida.


* * *

Eu estava tremendo e minha testa pingava, me impressionara bastante com a história de terror que a mulher acabara de me contar. Respirei fundo, disfarçando o medo.
- Legal. – dei de ombros e voltei a fitar a rua vazia, agora mais atenta.
- Os jovens de hoje não sentem mais medo... Culpa da televisão e dos vídeo games.
- Deve ser. – respondi, indiferente.
- O medo é uma reação inteligente. Alerta as pessoas a se afastarem do que é suspeito. Como uma desconhecida aparentemente inofensiva.
Pensei no que ela acabara de dizer. Fora assim que a rotulei quando a vi: uma mulher que parecia ser inofensiva. Meus olhos se arregalaram e minha respiração tornou-se barulhenta e pesada. Eu estava enlouquecendo, só podia ser. Ela não me alertaria se fosse perigosa. Alertaria?
A mulher começou a rir. O som era delicado e aveludado.
- Está vendo? Esta é uma reação bem saudável. – ela riu novamente.
Relaxei. Ela não era uma assassina. Olhei em meu relógio, era 01h30min da madrugada, meus pais já deviam ter reparado em meu sumiço e, provavelmente, estavam preocupados. Olhei para o caminho de volta para casa. Um arrepio percorreu minha espinha, eu estava com medo de ficar sozinha.
- Para onde você vai? – perguntei a ela.
- Para onde o vento me levar. – ela sorriu – Por quê?
- Preciso ir para casa, mas estou com medo. Você me assustou.
- Desculpe. – ela soltou uma risadinha.
- Acredita mesmo na sua história?
- Não só acredito como tenho certeza de que é real.
- Como pode ter tanta certeza?
Ela abriu um sorriso apavorante.
- Meu nome é Kendra.
Comecei a rir.
- Você é um tipo de “cover” da princesa da história?
- Não. – ela me olhava de um modo tão profundo que quis me afastar.
Levantei-me.
- Bom, vou para casa. Obrigada pela história. Adeus.
- Não vou deixar que vá. – ela estava atrás de mim. – Ninguém escapa da Dama do Bosque. E, para a sua infelicidade, eu sou a Dama do Bosque.
Ouvi sua risada repleta de prazer e de sede de beleza. Vi seus olhos amaldiçoados a me observar. E, então, tudo se apagou.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Liberdade


Após aquele rompimento doloroso com Cristian, jurei que nunca mais iria me apaixonar. Nenhum garoto chamava minha atenção. Todos eram feios. Foi exatamente nessa época que mudei de escola. Meu pequeno e insignificante mundo desmoronou.

Os dias pareciam curtos, já as noites pareciam intermináveis. O vazio que estava em meu peito parecia ser inocupável. Não posso me queixar muito, fui bem recebida e, após alguns meses, já haviam duas pessoas queridas ao meu lado, Brenda e Fernanda, elas agora são minhas melhores amigas. Fernanda é uma adorável garota, tímida e retraída, ela conquista a todos com seu jeito doce de ser. Brenda possui um gênio forte, uma personalidade incrível. Ambas são talentosas e amorosas.

Brenda, um dia, perguntou-me:

- O que você acha daquele garoto? - ela apontou na sua direção.

Ele não era o garoto mais bonito da escola, mas não podia ser considerado o mais feio. Era de estatura mediana. Seu sorriso era meigo, quase infantil. Seus olhos eram profundos, de um castanho escuro, e emanavam divertimento. Apesar de parecer brincalhão, o rubor constante em seu rosto mostrava-me que era bem tímido.

- Não o conheço, mas, ele não é de se jogar fora. - respondi com sinceridade.

- Falei com ele ontem, - começou ela - perguntei o que ele achava de você. - pelo seu sorriso, lá vinha bomba.

- E o que ele disse? - ela conseguiu atiçar minha curiosidade.

- Só mandou um mais [+], que no caso, de nós todas, você é a mais bela. - ela riu.

- Interessante. - tentei reprimir o nervoso que já começava a me perseguir.

- Quer ficar com ele?

- Eu nem o conheço, Brenda você ficou...

- Acalme-se sua fiasquenta, nisso eu posso dar um jeito. - estava claro que ela já tinha um plano.

As provas trimestrais se aproximavam, combinei de estudar com Brenda na escola. Na época, Brenda namorava Eduardo. Eles, por uma estranha coincidência, também estavam na escola.

Saí diversas vezes da sala, afim de deixar Bre e Edu namorarem. Por fim, ela pediu para Edu chamar Gabriel. Quando ele entrou na sala, usando uma bermuda jeans e uma camiseta vermelha, a única coisa que queria fazer era sumir dali. Minha face, com certeza, estava da mesma cor da camiseta dele.

Lembro-me que, enquanto o casal 20 queria se curtir, o praguinha não os deixava em paz. E assim passaram-se umas duas horas. Na hora de irmos embora, eles foram conosco. Gabriel não encostou um dedo em mim, o que me fazia pensar que não aconteceria nada nesse dia.

Quando chegamos em uma esquina, onde eu iria com Bre para um lado e eles seguiriam para o lado contrário, esperamos para uma despedida.

Brenda e Edu logo se abraçaram, enquanto isso, me escorei na parede. Gabriel, essa praguinha, tentou enfiar um lápis na boca da Brenda. Nisso, eu segurei sua mão, não me arrependo de ter feito isso, ele sorriu para mim e andou na minha direção. Pude sentir meu coração parar de bater, não sabia o que fazer. Ele olhou nos meus olhos, fiquei completamente sem jeito. Ele passou uma mão pela minha cintura, colou seu corpo com o meu e selou nossos lábios.

No outro dia, pensei que ele nem me olharia. Para minha surpresa, ele veio me cumprimentar e beijou-me a face. O rubor percorreu-me novamente.

Os dias passaram e nada ocorreu, até o aniversário de Brenda chegar. Na festa, ele veio me tirar para dançar, e como sou medrosa, só dizia "depois". Pensei que ele iria desistir, o que não ocorreu.

As férias de aproximavam, iria viajar para a casa do meu avô. Com a promessa de esquecer Gabriel.

Até pensei que havia conseguido. Comecei a namorar com Everton.

Só percebi que havia me enganado no reinício das aulas. Bastou somente um olhar para mudar tudo. Já está muito mais que comprovado que olhar não significa nada. Cada vez que Gabriel me olha, sinto meu coração bater mais rápido.

Nos últimos meses, perdemos todo e qualquer contato. Ele disse à Brenda que não quer compromisso e eu também não quero, na verdade, não sei o que quero. Às vezes, nem sei quem sou. Tem dias que quero ele ao meu lado, poder abraçá-lo e beijá-lo, mas tem dias que não posso vê-lo. O peso da liberdade fala mais alto em mim. Esse peso ele também tem, o da sua liberdade.

Ele disse à Brenda que é livre, que ama a liberdade, a liberdade eterna. E isso me tirou do sério. Tomada pela raiva, fui até a casa dele. Ao abrir a porta, ele assustou-se ao me ver.

- Que surpresa. - anunciou ele.

- Não vou demorar. - prometi - Está sozinho?

- Sim. - respondeu.

- Que bom. - tirei meu casaco, ele ficou olhando, boquiaberto, para meu corpo. Vestia uma minissaia, um top preto e nada mais. Minhas pernas estavam a mostra e ele não tirava os olhos delas.

- O que você pensa sobre a liberdade Gabriel? - perguntei, enroscando-me nele.

- Para mim, liberdade é algo que ninguém me tira. - respondeu.

- Nem eu, que o amo tanto? - tentei manter minha calma.

- Nem você, eu não a amo, pensei que você já soubesse.

- Era o que eu precisava saber. - tirei o revólver da bolsa. Um único disparo. A dor de perder um amor. - Vá atrás de sua liberdade Gabriel, no inferno, onde é o seu lugar.

Saí para a escuridão da noite. Andei até o bar da esquina.

Assim que entrei, fui direto para o balcão.

- Traga-me uma bebida. - pedi - Quero brindar.

- Se não for me entrometer, a que quer brindar? - perguntou o garçom.

- A liberdade eterna. - sorri.

Agora estava feliz e liberta.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Revivendo a Maldição


E quando acordei, não pude ver mais do que a escuridão. Minha visão estava negra, ou seriam ainda meus olhos fechados e dormentes?
Levantei-me cautelosa da grama úmida que me acalentava com seu leve cheiro de terra molhada. Queria ficar ali, deliciando-me daquele aroma doce e calmo, mas decidi levantar e descobrir onde eu estava.
A mata era espessa e de grande extensão, certamente uma floresta. Nada ali fazia sentido. Como eu, uma garota da cidade grande, morando em uma das maiores metrópoles do mundo, fui parar em uma floresta a noite?
Continuei andando incerta de direções até notar algo de estranho em minha visão. Tudo parecia embaçar sair de foco. Senti um pouco de tontura, procurando por apoio em um galho ou qualquer coisa que me evitasse um tombo. Agarrei-me a uma pequena árvore ao lado e procurei Deus sabe o que. Uma saída, uma luz, alguém.
Alguém.
Leve como uma sombra, branca como a luz.
Passou tão rápido que mal tive tempo de pensar que era alguém.
- Olá! – gritei com voz fraca.
Parecia que algo se agarrava a minha garganta com força sufocando o pouco de voz que eu tinha. A tontura voltou e o ar parecia sumir, desvencilhando-se de minha, agora frágil, existência.
O silêncio sentenciou minha morte após meu grito por socorro. Nada nem ninguém poderia me ajudar. Escorreguei aos poucos do forte tronco onde me recostava quase sem alma, quase sem vida.
Ao tocar novamente a grama molhada, senti-me talvez viva, ou talvez próxima ao céu. O doce aroma de terra molhada subia e enchia meus pulmões como em um resgate.
- Ei – ouvi de repente um sino.
Sua voz era doce, mas temerosa. Pareceu-me um grito de esperança ao ver que eu não estava sozinha.
- Por favor – esforcei-me para dizer – Ajude-me.
Abri meus olhos e vi uma pequena luz. Seus cabelos dourados caiam lisos e longos por suas costas e ombros. Ela olhava para o lado, não podia ver seu rosto coberto pelos fios amarelados.
Olhei novamente e ela sumiu.
O que estava acontecendo? Minha ajuda para onde fora? Eu ficaria ali, talvez por merecer, talvez por não merecer, ou simplesmente por que eu não tinha escolha.
Olhei para frente novamente e a vi. Sua luz, entretanto, não mais brilhava. Seus cabelos agora corriam o negro da noite. Ela estava de frente, ela me encarava por trás do manto de escuridão que a cobria.
Eu deveria chorar de felicidade, lá estava minha ajuda. Lá estava a voz doce. Mas não me senti feliz. Algo nela me perturbava, me deixava inquieta, não sabia que sensação era...
Ela se moveu então. Juro por Deus, preferia que não o fizesse. Seus movimentos eram parados e difíceis, mas seguidos. Sua cabeça pendia para os lados enquanto as costas se curvavam em minha direção. Um ruído baixo saia de seu peito ameaçadoramente. Ela parecia uma felina em minha direção. E lá estava eu, me sentindo uma presa. Os músculos contraídos e a cada passo, um fio de vida que se perdia..
Da densa neblina ela passou revelando uma forma desfigurada no lugar de um rosto. A pele queimada de sua face destacava-se da fina camada de pele branca do resto de seu corpo. Metade de seu rosto parecia perdido e caído enquanto seus olhos o haviam abandonado dando lugar a fundos buracos negros de morte.
Tentei gritar, mas não havia mais do que suspiros e sibilos de angústia
Ela se aproximava seu corpo agora esquelético coberto pela fina camada de pano branco.
Tentei rezar, mas nada me vinha a mente além daquele rosto de morte. Tentei fechar os olhos, mas não havia mais controle dentro de mim. Eu a olhava fixamente, ela me encarava pronta para me atacar. Seu corpo começou a se contorcer a menos de um metro da minha frente. O barulho de ossos quebrando e torcendo era como tortura, seus olhos eram como poço sem volta. Tentei ir para trás enquanto seus olhos chegavam cada vez mais, mas o tronco não me permitia movimentos. Eu estava cercada.
O cheiro de carniça vindo de seu corpo era sufocante. Sua forma desfigurada parou curvada sobre meu pequeno e encolhido corpo. Ela me encarava com superioridade, como se estivesse com raiva de algo que fiz. Uma raiva incontrolável que me perseguiria pela eternidade. A raiva da culpa.
O que eu fiz? – quis dizer, mas as palavras não passaram de abandonados pensamentos.
Ela continuou me fitando como se tivesse ouvido meus pensamentos e confirmou minhas suspeitas.
Errou o caminho - ouvi uma voz rouca e morta dizer, mesmo sem haver uma alteração se quer da forma desfigurada acima de mim.
Fechei os olhos com dificuldade e força. Talvez eu merecesse morrer pelo menos fitando o escuro, sem precisar encarar aquela forma horrível, mas não. Eu não merecia. Aquilo parecia uma maldição.
Meus olhos se abriram sozinhos e então a forma desfigurada acima de mim gritou de forma aguda e amedrontada, jogando-se contra mim. O medo atacou e estourou cada veia do meu corpo até fazer a bomba de sangue parar.
Uma dor aterrorizante me atacou. Eu precisava gritar, mas não conseguia. Nada aliviaria aquela dor. Nada.
E então acordei novamente. O cenário era o mesmo. O cheiro era o mesmo. Levantei-me rapidamente do chão e olhei para o céu.
Não, era crepúsculo ainda.
Olhei para trás e encontrei um pequeno acampamento com dois adultos e uma criança brincando com um cachorro.
- Milla? – chamou um dos adultos, uma mulher de cabelos dourados e voz de sino. Tive a impressão de tê-la ouvido antes, mas decidi ignorar essa impressão, não parecia real.
- Sim mãe? – respondi.
- Deixe para fazer sua expedição amanhã, logo vai escurecer. Você pode se perder.
- Não – respondi sem entender nada. Sentia-me sem controle do que estava acontecendo. Como se meu corpo e minha mente não estivessem no mesmo lugar mais sim trocados, como se o corpo mandasse na mente – Vou agora.
- Milla, obedeça a sua mãe – disse uma voz grossa ao lado da fogueira. Seus cabelos negros mal poderiam ser visto a noite. Seus olhos negros eram fundos e insondáveis.
- Está bem – disse e entrei na barraca.
Quando todos os sons cessaram, abri o zíper lentamente e olhei envolta. A fogueira estava apagada e, no céu, um manto negro e opaco. Nada de lua ou estrelas. Envolta do acampamento, as barracas fechadas e inconscientes. Coloquei os pés para fora e segui para dentro da floresta.
Mandei meu corpo voltar, mas não tive resposta.
A floresta estava negra, a neblina cobria cada canto. Continuei andando até ouvir um pequeno barulho. Parecia passos, ou seriam pequenos animais andando? Não sabia dizer exatamente o que era, mas por algum motivo, sabia que não era bom.
Um som oco apareceu e então minha visão rodou até tudo desaparecer. Minha cabeça começou a doer e, mesmo de olhos fechados senti uma tontura. Eu parecia estar presa em minha própria cabeça.
Senti que estava sendo carregada por um bom tempo até cair com força no chão.
Um cheiro de grama e terra molhada subiu no ar até encher meus pulmões.
Aos poucos tentei abrir os olhos e vi uma luz branca de longe, parecia uma lanterna.
-Olá – chamei e vi a luz parar, mas ela não me respondeu.
Levantei da grama e vi uma fogueira grande, uma casa de madeira velha e algumas ferramentas.
Quando olhei para o lado vi a figura de um homem grande passar ao longe de algumas árvores.
- Ei – chamei com minha pequena voz, mas a senti um pouco trêmula.
Ele parou e me encarou de longe.
- O que você quer? – gritou grosseiro.
- Por favor – pedi – Ajude-me!
- É claro – ele disse e desapareceu na escuridão.
Fiquei perdida naquele lugar, sozinha, próxima a fogueira. Voltei para tentar me aquecer. Talvez ele aparecesse mais tarde para me ajudar. Eu precisava voltar ao meu acampamento. Minha mãe iria me matar se soubesse que fugi a noite na floresta. Não precisava dar a ela essa dor de cabeça nas férias.
Quando estava prestes a sentar em um pequeno banco de madeira, senti algo se agarrando ao meu pescoço. Uma voz grossa ria incontrolada atrás de mim. Ele segurava meu pescoço com as duas mãos, sufocando-me.
Senti minhas forças esvaindo-se como o ar que eu perdia aos poucos. Quando já não me restava mais que um suspiro, aquele homem tirou um ferro, cuja ponta estava na fogueira, e apontou-o para mim.
Jogou-me no chão amarrando-me os braços e uma mordaça na boca, impossibilitando-me de gritar e bateu cruelmente em meu rosto com aquele ferro quente. Senti meu rosto queimar e perfurar enquanto não podia expressar minha dor. Ele bateu com a ponta do ferro em cada um dos meus olhos e para finalizar apontou em meu peito.
- O que eu fiz? – perguntei já sem forças.
- Errou o caminho. – ele respondeu entre risos e enterrou o ferro em mim.
Eu não deveria ter saído do acampamento. Se não fosse tão teimosa.
- Eu me amaldiçôo - disse em um ultimo suspiro até sentir o calor consumir minhas veias até explodir em meu coração.
O ultimo cheiro que lembro ter sentido, foi o da terra molhada.
A ultima imagem foi a da minha mãe, chamando-me de volta para casa com sua linda camisola branca reluzindo com a luz do fogo.

E quando acordei, não pude ver mais do que a escuridão. Minha visão estava negra, ou seriam ainda meus olhos fechados e dormentes?
by Jess*

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Última missão

Não posso deixar de me sentir culpada pelo rumo que a situação tomou. É como se tudo de ruim que acontece comigo e com as pessoas que me cercam fosse culpa minha. É como se eu fosse amaldiçoada pelo destino, fadada a levar a tristeza e a dor à todo lugar onde vou. Determinada a fazer todos sofrerem, inclusive a mim mesma.
Não podia deixar que a desgraça fosse adiante. Não podia deixar que a situação terminasse do mesmo modo que as outras terminaram: em dor e suicídio.
Olhei pela última vez a loira que acabara de se enforcar. Era isso o que acontecia quando nos apaixonávamos pela pessoa errada. Eu fora uma dessas mulheres, mas meu fim fora bem diferente. Era incrível o fato de eu ter sido a única a quem ele não abandonou, a quem ele não magoou tanto a ponto de desejar a morte. Ao invés disso, ele roubou-me o direito de morrer, obrigando-me a viver nas sombras eternamente. Então, eu o deixei.
Acho que ele nunca se conformou, estava acostumado a ser amado e não a amar. Estava acostumado a se aproveitar das mulheres, usando-as para o prazer, bebendo o sangue de sua família, e depois, deixando-as. Desconsoladas e solitárias, todas se mataram, menos eu. Tive a infelicidade de ser escolhida por ele e de ser privada da vida à luz do sol. Fui condenada a viver eternamente e, na eternidade, o tempo nunca passa.
Deixei a casa que fora o palco de mais um homicídio. Andei pela rua banhada pela escuridão da meia noite. Precisava encontrar aquele que fora o amor da minha vida, mas que agora era a pessoa – se é que podia considerá-lo uma pessoa – que eu mais odiava em todo o universo.
Eu não sabia ao certo onde encontrá-lo. Precisava pensar. Onde ele encontrava suas vítimas? Antigamente, 106 anos atrás, ele me encontrou quando eu ia para a costureira. Nunca me esquecerei de como fiquei impressionada com sua beleza surreal. Com o passar dos anos, ele baixou o nível, procurando suas vítimas em bares, boates e casas de strippers.
Corri até a boate mais próxima. Não havia rastro de vampiro lá, então nem entrei para não ter que resistir à tentação do sangue inocente. Fui até o bar mais próximo. Havia um rastro lá e o bar estava quase vazio. Andei em direção ao balcão.
- Olá gatinha. – disse o idiota, atrás do balcão, que certamente não sabia com quem estava lidando – O que deseja? – percebi o duplo sentido em sua pergunta.
- Procuro este homem. – coloquei a foto dele no balcão – Você o viu?
- Ele me perguntou onde ficava a casa de strippers mais próxima. Ele deve estar bem ocupado agora, por que não me deixa distraí-la enquanto ele não volta? – ele pulou por cima do balcão, ficando ao meu lado, e me puxou pela cintura.
- Não, obrigada. Tenho um peixe maior para pescar.
Esquivei-me de sua armadilha e dei-lhe as costas. Eu já sabia onde ficava a casa de strippers mais próxima, então corri a toda a velocidade para lá. Ao entrar, localizei o dono do local. Fui até ele.
- Boa noite. Gostaria de uma entrevista de emprego? Temos vaga para você. – ele me olhou de cima a baixo.
- Não, obrigada. Procuro alguém. – mostrei-lhe a foto.
- Não posso revelar o paradeiro de meus clientes.
Aproximei-me, beijei seu pescoço – o cheiro do sangue deixando-me louca de sede – e sussurrei em seu ouvido.
- Claro que pode. – ele estremeceu.
- Ele foi para o motel aqui ao lado, com Maya. – era muito fácil convencer homens.
- Obrigada.
- Hey, que tal uma audiência privada? – ele sorriu.
- Já disse que não.
Virei as costas e fui ao motel.
O cheiro de vampiro era extremamente forte. Passei despercebida pelo funcionário que olhava uma revista pornográfica e entrei no quarto onde ele estava.
Na cama, a pobre mulher ruiva estava nua e coberta de arranhões sangrentos. A mordida quase destroçara seu pescoço frágil. Ele perdera o controle.
Virei-me e o vi sentado em um canto sombrio no quarto. Ele estava disperso. Como sempre, suspirei com sua magnificência.
- Olá Charles. – saudei. Ele voltou seus olhos rubros para mim.
- Heidi. – ele sorriu.
- Perdeu o controle?
- Não pretendia ficar com esta.
- Não sabia que já havia pretendido ficar com alguma.
Ele se levantou e andou até mim.
- Você foi a única.
- Grande erro seu.
- A vida é feita de erros.
- Estamos mortos.
- Sempre tão amarga.
Charles enlaçou-me pela cintura e selou nossas bocas. Se eu ainda fosse humana, provavelmente sentiria dor. Beijávamos-nos violentamente, a paixão e o ódio fundindo-se e tornando-se apenas o ardor. Senti meu coração apertado em pensar que teria que matá-lo, mas eu não tinha escolha. Seria um grande desperdício, mas precisava acabar com a dor que ele causava.
Só havia suas maneiras de matar um vampiro: Sugar todo o liquido venenoso que corre em suas veias e, então, cravar uma estaca em seu coração; ou expô-lo ao sol e deixá-lo queimar. Como era apenas 1h da madrugada, optei pela primeira alternativa.
Deixei suas mãos ansiosas percorrerem meu corpo e induzi-o até a cama. Com um tapa, ele fez o corpo sem vida de Maya cair ao chão. Ele deitou por cima de mim e começou a tirar minha blusa. Antes de conseguir, inverti as posições. Enquanto beijava-o, abri sua camisa, deixando seu peito musculoso à mostra. Levei meus lábios ao seu pescoço e cravei meus caninos em suas veias. Ele não lutou, deixou que eu terminasse meu trabalho.
Quando terminei de sugar o liquido, puxei a estaca do meu bolso. Dei-lhe um último beijo.
- Amo você. – ele sussurrou, sem forças.
Cravei-lhe a estaca de madeira e o vi dar seu último suspiro. Minha missão estava terminada.
Sentei-me na cadeira onde ele estava e esperei, enquanto observava o corpo drenado do amor da minha vida. Eu ainda o amava, não havia dúvidas, e estava prestes a encontrá-lo, seja lá para onde os vampiros vão ao morrerem.
Às 10h da manhã, o sol estava suficientemente forte. Andei até a janela do quarto, com as persianas ainda fechadas. Lancei um olhar pela última vez para Charles.
- Estou indo encontrá-lo, meu amor. – sussurrei.
Pensei no fogo que me consumiria quando eu deixasse o sol entrar e sorri. Eu merecia toda a dor que sentiria, por ser uma aberração, uma criatura fictícia repugnante. Então, eu abri as persianas.

By Micha! ;**